Ministério das Mulheres anuncia criação de fórum e apoio à produção de dados sobre vivências lésbicas


A pasta apoiará financeiramente a pesquisa nacional que coleta dados sobre a realidade das lésbicas brasileiras. Os dados irão tornar mais efetivas as políticas públicas para o grupo

  O Ministério das Mulheres preparou entregas para o Dia da Visibilidade Lésbica, comemorado na terça-feira (29/agosto). Uma delas foi o apoio financeiro de R$ 250 mil para a continuidade da pesquisa LesboCenso, que se propõe a mapear a realidade das lésbicas no país. Na primeira fase do levantamento, foram consultadas 22 mil mulheres com essa orientação sexual em todas as regiões brasileiras.  Agora, a entrada do ministério como financiador tem o intuito de obter um levantamento qualitativo sobre o tema, já que a segunda etapa será de entrevistas semiestruturadas com as participantes anteriores.

  Um dos principais propósitos do ministério com o levantamento é enfrentar a violência sexual contra lésbicas, em especial a cultura do estupro corretivo, crime praticado no intuito de controlar ou corrigir a sexualidade ou o comportamento sexual de lésbicas.

 

“O Lesbocenso é primordial porque precisamos de dados. Na primeira fase, por exemplo, das 22 mil mulheres participantes da pesquisa, 24% delas afirmaram já terem sofrido algum tipo de violência sexual”, diz a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves.  


“O Lesbocenso é primordial porque precisamos de dados. Na primeira fase, por exemplo, das 22 mil mulheres participantes da pesquisa, 24% delas afirmaram já terem sofrido algum tipo de violência sexual”, diz a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves. O investimento público na pesquisa ajudará a custear o que for necessário para a aplicação do método, as reuniões e treinamentos das pesquisadoras em todo o país. A partir disso, se consegue construir políticas públicas específicas para o combate dessa cultura.

  “Nos últimos dias, várias parlamentares lésbicas do Brasil foram ameaçadas nos seus e-mails institucionais de estupro corretivo. Então, essa violência contra a dignidade das lésbicas, no sentido de uma suposta ‘cura’ ou de ‘correção’, precisa ser combatida”, associou a ministra.

  Iniciado há dois anos, o LesboCenso é a primeira coleta de informações sobre a situação de trabalho, educação, saúde, relacionamentos, relações familiares e redes de apoio de mulheres lésbicas em todas as regiões do país. O levantamento é feito em parceria com a Universidade Federal do Paraná (UFPR), somente com pesquisadoras que tenham essa orientação sexual. Os dados e os resultados serão sistematizados em formato de artigos científicos e de materiais gráficos. Todas as informações serão públicas para que o ministério faça uso nas formulação de políticas públicas e campanhas mais efetivas.

Fórum específico para diálogos 

Outra ação anunciada foi a assinatura de  portaria ministerial para implementar o Fórum para a Promoção de Estratégias para a Autonomia Econômica e Cuidado, Enfrentamento à Violência e Articulação Institucional de Políticas Públicas para Lésbicas. Esse será um mecanismo de debate e formulação de ações para tornar mais direcionadas às políticas públicas para esse grupo de mulheres.

  O espaço servirá para maior participação política desse grupo, com consulta às representantes de movimentos sociais de lésbicas e de outros ministérios que convergem com o direcionamento da formulação das políticas. Uma das principais funções será o debate de estratégias e ações para prevenção de violências contra as lésbicas, além da garantir direitos sobre cuidado de atendimento, debate da igualdade de gênero, orientação sexual e apoio na elaboração de estudos diagnósticos nos diferentes territórios em que vivem.

  “A criação desse fórum é histórica, porque abrirá outros caminhos, outros diálogos depois de tantos anos de movimento social e ativismo político. O governo finalmente está reconhecendo que existem necessidades específicas. As cartilha são importantes, mas um olhar específico para as necessidades das lésbicas, como um preservativo que atenda, uma política de reprodução assistida para evitar violações e violências são alguns pontos. Vamos trabalhar a questão da lesbianidade dentro dos canais da Ouvidoria do Ministério das Mulheres, da política de autonomia econômica e cuidados, na participação política e enfrentamento à violência”, explicou a assessora do gabinete da ministra para assuntos LBT, Malu Aquino.


*Dados do Ministério das Mulheres

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