Órbita Literária 407 – Propaganda e persuasão: O caso da Alemanha Nazista (1933-1945)

 

Fábio Rausch

Em meados dos anos 1930, no entremeio das duas grandes guerras, uma possibilidade de comunicação total toma força na Europa. Alguém já a chamou de agulha hipodérmica. Trata-se de uma supremacia do emissor, a tal ponto que o receptor apenas absorve a informação, sem maiores reações críticas. Na esteira disso, floresceram os regimes nazi-fascistas.

No caso da Alemanha Nazista, um complexo aparato multimídia levou a uma ascensão de partido único, de modo a confundi-lo com a própria nação. Mesmo com a derrota na Segunda Guerra (1939-1945), obcecados pelo ideário do regime, a maior parte dos alemães não titubeou a pagar com a própria vida, diante do equívoco de uma submissão ideológica.

Sob a orientação do livro "Propaganda e Persuasão na Alemanha Nazista", de Paula Diehl, tem-se a pretensão de examinar os instrumentos comunicativos, fundamentais para o florescimento e para a afirmação de um nefasto regime que durou de 1933 a 1945.


Livro O jornalismo sensacionalista na imprensa gaúcha (Educs, 2015)

O presente trabalho começa diante de significativo desafio, qual seja: estudar práticas sensacionalistas no âmbito da história da imprensa sul-rio-grandense. Primeira dificuldade: não existe, no Rio Grande do Sul, uma tradição voltada a produzir jornais com esse caráter, o que, de maneira diversa, já é mais frequente, no âmbito da imprensa do Sudeste brasileiro. Leia-se, a propósito, o Notícias Populares, de São Paulo, periódico que possibilitou competentes estudos, como aqueles desenvolvidos por Angrimani (1995) e Pedroso (2001).

Ciente das limitações que, por ora, possam travar o processo de pesquisa e de análise, não se está, aqui, procurando chifre em cabeça de cavalo, no jargão popular. Muito pelo contrário, a intenção é, de antemão, desvencilhar-se de rótulos pejorativos, tão habituais para classificar o trabalho da imprensa, no sentido de considerá-lo sensacionalista.

Em outro texto, diante de situação não muito diferente da referida acima, Thier (2009) empreendeu estudo sobre o Diário Gaúcho, com a finalidade de demonstrar que o design gráfico de um jornal potencializa sua estrutura editorial, na condição de periódico popular. Se bem conduzido, tal projeto gráfico, segundo ele, acarreta, inclusive, aumento dos índices de leitura.

Desse modo, Thier (2009) procurou evidenciar que, ao invés de chegar a ponto de publicar fotos com vísceras, caso, por exemplo, do citado Notícias Populares, cujo modelo sensacionalista chegou a ser abandonado pela direção editorial daquele jornal, pertencente ao grupo Folha, antes do encerramento das suas atividades, desencadeado em 20 de janeiro de 2001, o Diário Gaúcho afirma-se como periódico popular que busca facilitar a leitura de uma camada da população, voltando-se para a prestação de serviço. Thier observou, ainda, aproximações entre o Diário Gaúcho e o Jornal Extra, do Rio de Janeiro, vinculado ao grupo que também dirige O Globo.

Com relação ao jornal O Dia, outro periódico popular do Rio de Janeiro, serão referidos os estudos de Aguiar (2009; 2010). Ele verificou que o caráter popular de O Dia não o impediu de conquistar, por sete vezes, na categoria de melhor reportagem, o Prêmio Esso de Jornalismo.

Na mesma linha, Amaral (2006), como será comentado mais adiante, também vai questionar o chamado velho conceito de sensacionalismo e mostrar a sua evolução, também no sentido do

jornalismo de serviço. Ela reclama, ainda, da falta de novos olhares sobre a temática. Quanto ao último ponto, percebe-se que as obras de referência, nessa área, vêm se detendo em problematizar o sensacionalismo, a partir de um só periódico, em situações muito específicas. Mas, com efeito, parece que os conceitos desse campo de estudo precisam ser encarados à luz de contextos mais amplos, capazes de permitir um olhar evolutivo, dentro da própria história do jornalismo.

O motivo desse enfoque de análise, para o contexto do jornalismo gaúcho, deve-se à constatação de que, por vezes, até pesquisadores da área, a partir de ligeiras observações, comentam que, neste ou naquele caso, algum periódico teria se comportado de forma compatível com os fundamentos que caracterizam a imprensa sensacionalista.

Sob a ótica do fait divers, notícias de crimes envolvendo pessoas conhecidas, foram escolhidos os casos Kliemann, Daudt e Eliseu. Em momentos distintos da história da imprensa do Rio Grande do Sul – anos 1960, 1980, 1990 e 2000 –, a partir dos periódicos Diário de Notícias, Última Hora, Zero Hora, Correio do Povo, RS – O Jornal do Jockymann e Diário Gaúcho, serão aplicadas categorias codificadoras do gênero sensacionalista, a fim de verificar a presença, ou não, desse caráter genérico, nos relatos jornalísticos alvos de análise.

Pelo teor dos crimes que fundamentaram esses casos, procura-se examinar até que ponto se poderia falar em um jornalismo sensacionalista, no âmbito da trajetória da imprensa sul-rio-grandense.

A hipótese caminha no sentido de que a natureza impactante dos casos arrolados leve a claras possibilidades de se observarem sensacionalizações, por assim dizer. Ao invés de uma análise detida num só caso, opta-se por tratar as matérias de forma alegórica, para verificar comportamentos jornalísticos, com o intuito de se chegar a alguma consideração, quanto ao nível de presença, ou não, do gênero sensacionalista.

Mediante revisão bibliográfica, entre autores brasileiros que se dedicaram a problematizar a temática do sensacionalismo na imprensa, o presente estudo busca desenvolver formas de codificação para o gênero jornalismo sensacionalista. Segue-se a orientação metodológica da hermenêutica de profundidade, proposta por John B. Thompson, e da análise do discurso das mídias, de Patrick Charaudeau.

Defende-se, portanto, maior cuidado em taxar este ou aquele jornal, esta ou aquela notícia, como sensacionalista, algo que, não raras vezes, sai da garganta de leitores e, inclusive, de jornalistas profissionais. Entende-se haver uma só possibilidade, nesse sentido: examinar níveis de sensacionalização, por meio de análises discursivas, sobre os recursos narrativos, empregados na construção das matérias jornalísticas.

A divisão desta obra baseou-se na orientação de Thompson (1995; 2007), de que todo estudo precisa levar em consideração fatores sócio-históricos. Sendo assim, o primeiro capítulo dedica-se a traçar uma evolução da imprensa, em sentido genérico, partindo de experiências remotas, no contexto europeu, até chegar ao plano da imprensa do Rio Grande do Sul, tem os jornais-objeto de estudo. Há preocupação com fatores conceituais, técnicos, dentre outros.

O segundo capítulo traz caracterizações do campo jornalístico, estrito senso, com detalhes de suas raízes e, sobretudo, a natureza dos gêneros que embasam sua prática, até chegar ao jornalismo sensacionalista. Nesse caso, esmiuça-se sua história, em níveis mundial e nacional, e suas bases conceituais. Caracterizam-se, ainda, componentes como fait divers, estereótipo e crime.

No terceiro capítulo, são explicitadas as estratégias metodológicas de trabalho e a formulação das categorias que permitirão, na sequência, analisar os tópicos propostos, à luz de uma codificação do gênero jornalismo sensacionalista. Nesta última etapa, procuram-se níveis de sensacionalização, em matérias jornalísticas, dentro do panorama comentado, desde a abertura desta introdução.



Perfil 

Fábio Rausch é mestre em Comunicação Social, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), aprovado com voto de louvor, em março de 2011. Graduou-se em Jornalismo, em agosto de 2007, também pela PUCRS. Acumula passagens pela assessoria de imprensa do Conselho Regional de Farmácia do RS e pelas redações dos periódicos gaúchos Correio do Povo e Jornal do Comércio. Na Câmara Municipal de Caxias do Sul, como jornalista de provimento efetivo desde de 2010, atua como assessor de imprensa. Na TV Câmara Caxias (canal 16 da Claro/NET), é o apresentador titular dos programas De Frente com a Lei e Café com Letras. Em dezembro de 2015, lançou o livro O jornalismo sensacionalista na imprensa gaúcha (Educs, 2015). Em 2010, coordenou o Grupo de Estudos em Políticas e Tecnologias da Comunicação da PUC/RS. Tem sido painelista em diversas edições do projeto caxiense Órbita Literária, com ênfase na temática da comunicação social na contemporaneidade.

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