"As crianças, principalmente na periferia, não recebem atenção do poder municipal"

Entrevista com Jacir Antônio Teles de Souza (PT), pré-candidato à câmara municipal de Caxias do Sul




 Jacir Antonio Teles de Souza, 52 anos, tem longa trajetória de vinculação com a política. A aproximação inicial foi por “culpa” do então candidato à prefeitura Pepe Vargas e a decisão para a disputa de uma cadeira na câmara municipal veio a partir do ioncentivo de moradores das comunidades onde ele desenvolve diversas atividades comunitárias voluntárias. 

Profissionalmente, atuas com que?

Trabalho com o transporte, principalmente com o transporte escolar.


E como se deu tua aproximação com a política?

Me aproximei da política por meio do Pepe Vargas e da Denise Pessôa. Comecei trabalhando nas campanhas deles lá por volta de 2010, 2012. Mas é a primeira vez que me candidato, principalmente porque muitas pessoas começaram a me sugerir isso.


No papel de vereador, como é que tu enxergas a cidade?

Nessa condição, meu olhar é pro povo que mais precisa. Penso que um vereador deve se preocupar com as demandas do dono da padaria, do salão de beleza, da quitanda, esses microempresários que enfrentam muitas dificuldades pra tocar seu negócio. A prefeitura municipal poderia perfeitamente, criar um fundo municipal, uma forma de auxílio a esses pequenos empreendedores, com juros baixos e prazos razoáveis, por exemplo. Então vejo Caxias como uma cidade grande e rica, mas onde há muito poder concentrado em quem tem dinheiro e muita falta de atenção com aqueles que não têm dinheiro nem poder. 

Que problemas as pessoas mais te relatam quando procuram ajuda?

São muitos problemas e nas mais variadas áreas. Alguns até simples, que exigem somente uma gestão bem-organizada e vontade política. Como trabalho diariamente no trânsito, percebo o quanto faltam sinaleiras na cidade, por exemplo. No bairro Fátima, o transporte não é seguro, principalmente se a gente pensar nas crianças. A segurança no transporte não é somente a sinaleira, ou a sinalização. Falta isso, é verdade, mas, também há buracos nas ruas, que além de prejuízo com o conserto do veículo causam acidentes.

Como iniciou essa tua ligação com a comunidade?

Quando a gente trabalha com crianças, é natural ficar conhecendo os pais e familiares. A família se preocupa com os filhos e então se aproxima da gente, que transporta eles todos os dias de casa pra escola e da escola pra casa. Então, a gente acaba fazendo amizade e conversando sobre o dia a dia da cidade.
No Bairro Fátima, por exemplo, tem a Rua Henrique Fracasso, que faz mais de 10 anos que enfrenta problema com o transformador e acaba não tendo luz. A gente não pode admitir uma coisa dessas. 


Isso Parece pouca coisa, mas se a prefeitura não troca nem as lâmpadas queimadas, imagina como é a gestão nos problemas maiores. E a falta de luz está ligada com a segurança, que acaba se ligando com a saúde e até com a educação. Qual a segurança do estudante que volta pra casa às 11 horas da noite no escuro? Se é assaltado, temos violência e ele tem que ser atendido numa UPA, numa UBS, que também tem problemas sérios e quando o estudante desiste de estudar por medo de circular, porque o transporte coletivo também não atende a comunidade, a gente tem o problema da educação. Então, uma lâmpada não é só uma lâmpada. 



E as comunidades com quem tens ligação são participativas? 

Pra ti participar, alguém tem que te ouvir. E as pessoas não são ouvidas. Elas não têm pra quem ou onde se queixar. A prefeitura não pode se preocupar só com o transporte no centro, com as escolas particulares. Todos são moradores da cidade. Todos são cidadãos.
 
A saúde em Caxias é uma coisa muito triste. Falta de atendimento, falta de médico, filas de espera, falta de leito. Nas UBS não tem atendimento especializado. O que a população pode fazer? Teve a CPI da Saúde não faz muito, e o que mudou? Nada.

As crianças, principalmente na periferia, não recebem atenção do poder municipal. A gente que trabalha com elas vê abandono, maus tratos, uso de drogas. Isso é muito triste. A prefeitura precisa fiscalizar, encaminhar essas criancinhas para um lugar onde sejam bem cuidadas, mas não se vê isso. Tenho muito contato com imigrantes que vêm pra cidade, bolivianos, haitianos, venezuelanos... Eles passam muita necessidade.


Penso que como Caxias é uma cidade grande, a gente deveria ter uma forma de receber eles com mais cuidado. Existe o CAM, mas a cidade deveria ter uma política de encaminhamento para frentes de trabalho, para moradia temporária. Muitos dos cidadãos hoje bem estabelecidos na cidade já foram imigrantes e conhecem a história de sofrimento de seus avós e bisavós. Então, Caxias deveria pensar nos imigrantes com mais carinho.


E esse cuidado da moradia é importante demais. A gente viu na enchente, as áreas de risco desmoronando e matando gente. A cidade tem que fazer um planejamento sério que tire as pessoas dessas áreas de encosta, áreas de invasão, de junto das represas.

É triste ver abandonada desse jeito uma cidade tão bonita, tão bem localizada, com tantas indústrias, com um comérico rico. E é mais triste ainda ver que essa cidade não se preocupa com bem estar dos seus moradores. Uma cidade tem que ser administrada para todos os seus cidadãos, não para alguns. E eu penso que um vereador deve ser alguém que luta pra isso.
 

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