"Educação pública de qualidade, segurança de qualidade, saúde de qualidade são direitos do cidadão"

Entrevista com  Lucimar Carnizella (PT), pré-candidato à câmara municipal de Caxias do Sul




 Lucimar Carnizella, formado em Administração pela UCS, é funcionário público na Prefeitura Municipal de Caxias há 17 anos. Trabalhou na Câmara de Deputados por seis anos como assessor do deputado Pepe Vargas. Posteriormente, trabalhou, por quatro anos, com a Presidenta Dilma Rousseff, no Ministério do Desenvolvimento Agrário, onde coordenou o PAC Equipamentos, um dos maiores programas de distribuição de equipamentos do mundo, com um orçamento de 4bi 926 milhões de reais. Lucimar é filiado ao PT faz mais de 30 anos. É natural de Ipê, cidade próxima a Caxias do Sul. É casado, tem um filho de 31 anos que é arquiteto e uma cadelinha pinscher, a Dona, que é "quem manda na casa".


PAC Equipamentos, um grande motivador

Ao falar sobre o PAC Equipamentos, Lucimar se entusiasma. Nesse Programa foram distribuídos mais 18000 mil equipamentos, entre motoniveladoras (as populares patrolas) retroescavadeiras, caminhões-caçamba, caminhões-pipa e pás-carregadeiras. No Rio Grande do Sul, 455 prefeituras foram atendidas. Todos os atendimentos com foco na agricultura familiar, em cidades com menos de 50.000 habitantes, o equivalente a 92% desses municípios brasileiros.

Como te interessaste pela política? 

Eu vivi de perto a transformação que o PAC Equipamentos trouxe para muitas prefeituras, melhorando a vida dos pequenos agricultores e dos moradores das cidades. Ele gerou emprego e renda para milhares trabalhadores, porque o governo exigiu somente produtos fabricados no Brasil. Aqui em Caxias, por exemplo, a Randon vendeu mais de 1.000 retroescavadeiras só para o Programa. Isso ajudou muitas prefeituras, uma vez que algumas delas não tinham sequer uma única máquina. Acredito que o programa foi muito importante para o país como um todo e isso, para mim pessoalmente, foi um grande motivador.

Antes disso, na política, fiz escola com o Deputado Estadual Pepe Vargas, com quem trabalhei por mais de uma década, como assessor parlamentar da Câmara dos Deputados. Fiquei até 2012 no gabinete dele, depois fui para Brasília, onde estive até 2016. Foi um belíssimo trabalho, mas no mesmo dia em que houve o impeachment da Presidenta Dilma eu pedi exoneração e voltei para Caxias do Sul assumindo a função de guarda municipal no dia seguinte, uma vez que era concursado na Prefeitura Municipal.

E a volta, como foi? 

 Reconheço que fazer política em Caxias do Sul não é algo fácil. É difícil exercer militância aqui, mas acredito que estou do lado certo. E isso a gente vê pelas políticas públicas, pelo desastre que houve desde 2017 para cá: um negacionismo violento. O mundo perdeu; o Brasil perdeu o protagonismo Internacional; o estado perdeu o protagonismo. A gente vê a situação do Rio Grande do Sul hoje. A população empobreceu, está muito mais sacrificada. A inflação aumentou, aumentou o desemprego, aumentou a desigualdade. Atravessamos um quadro muito ruim. Basta ver as mais de 700 mil pessoas mortas pela pandemia de covid-19, graças ao descaso do governo. E o maior problema é que muitas pessoas ainda não conseguem ver que passamos por um período de barbárie.


Você, de fato, vê perspectiva de mudança para nossa cidade? 

Sim, temos pessoas pobres, necessitadas mesmo, que precisam da ajuda da prefeitura que está sem comando a dois governos. A população está sem perspectiva, a saúde abandonada, a segurança sem efetivo, a educação sucateada e ainda defendem privatizações, políticas negativas... Sempre digo que quando tudo estiver privatizado, nós seremos privados de tudo, lamentavelmente. Muitos precisam da saúde pública, da escola pública. Oferecer essa condição à comunidade é uma obrigação do poder público.

Então, acredito que o papel de um vereador, em sua cidade, é lutar por boas políticas públicas, desenvolver projetos que beneficiem o cidadão, pressionar o poder público para que ele olhe para sua população, buscar conscientizar as pessoas de que elas têm direitos que não podem ser retirados delas e distribuídos somente a quem tem dinheiro.

 Hoje, temos uma cidade abandonada, já fomos a cidade mais limpa do país, instalamos coleta seletiva de resíduos, construímos mais de 20 UBS. O transporte coletivo já foi exemplo de excelência. Agora, as Upas privatizadas, atendem muito mal, filas de pessoas doentes dobram esquinas. Pessoas morrem na fila à espera de um leito. É uma vergonha, a UPA central não tem pediatra. Os profissionais são desvalorizados, ganham mal. E a terceirização somente agrava esse quadro. Falta profissionalização, falta treinamento, o número de funcionários é cada vez menor, na busca pela produtividade desenfreada.

Se os profissionais da saúde são mal remunerados, eles abandonam o serviço público, e a maioria da população vai ficar sem atendimento, porque se tu fores ver, essa maioria não tem plano de saúde. Então, a população tem que pensar nisso na hora do voto. O eleitor tem que entregar um voto consciente, escolher candidatos que vão defender as causas da população e não os benefícios de uma minoria. É preciso eleger alguém que pense na população mais pobre, que defenda quem é contra a privatização.


Educação pública de qualidade, segurança de qualidade, saúde de qualidade são direitos do cidadão. Precisamos de uma guarda municipal de aproximação, que atenda a comunidade de verdade e faça esse serviço bem-feito, mas falta efetivo para atender todas as demandas. 


A cultura em nossa cidade está abandonada, nada é oferecido aos moradores das comunidades. Caxias já foi destaque em turismo também, e hoje isso está num passado distante.


E onde estaria a solução? 

Para se ter uma ideia, sempre se viu ônibus de visitantes estacionados em pontos turísticos. Hoje, isso não existe mais. Os ônibus não têm sequer lugar para estacionar e a prefeitura não resolve essa simples questão há anos.

A Festa Nacional da Uva chegou a trazer até um milhão de turistas para a cidade, foi aberta por Presidentes da República, tem um espaço maravilhoso que poderia ser muito bem aproveitado, mas que está abandonado. Durante a semana as réplicas não abrem. Então, acho que chegou a hora de a gente resgatar nossa cidade. Se conseguir uma vaga na Câmara, pretendo dedicar cuidado especial à segurança, ao turismo, à saúde e à educação. Caxias precisa de lazer, de divertimento para seus cidadãos. E a gente fala nessas áreas separadamente, mas na verdade elas funcionam integradas. Hoje, você não vê um futuro para Caxias, que tem tudo para ser uma cidade moderna, dinâmica.


Outro fenômeno que tomou conta do poder público da cidade são os CCs, ou seja, cargos de confiança. Costumo dizer que a prefeitura tem um “esconderijo de CCs. Isso não pode ser assim, não sou contra os CCs, mas tem que trabalhar né? Muitos sequer aparecem no trabalho, os ditos fantasmas. 

  

Além da sujeira e do mau cheiro que tomaram conta da cidade, vemos um número enorme de animais abandonados, doentes, pelas ruas. A Sema tem um equipamento chamado castramóvel que custou meio milhão de reais e está abandonado faz anos. A cidade está cheia de pet shops, por que não desenvolver campanhas de castração e vacinação em parceria com elas e mesmo estruturar os parques públicos com areia, com saquinhos plásticos para embalar fezes. Tudo é, sempre, uma questão de educação, a prefeitura municipal tem veterinários, bastaria desenvolver uma campanha de cuidados com os animais abandonados. 

Dinheiro e vontade política são interdependentes?

Muitos dos problemas da cidade não estão relacionados a dinheiro, mas a vontade política. Mais do que dinheiro, o que falta para melhorar a cidade, é vontade política e iniciativa, é conversar com as entidades do município, temos quase 200 agências de turismo. Por que não chamar esse pessoal para conversar e pensar um planejamento para o turismo?

Eu morei em Brasília, já viajei muito e viajo muito e na maioria das cidades as coisas são pensadas em conjunto, cuidadas e com segurança. Então, vendo que isso é possível em outras cidades, quero participar da transformação da nossa, trazer mais segurança, saúde e educação, que é o básico que se deve ter.

Na minha ótica, o vereador tem dois papeis: um é legislar, que é fazer leis e o outro é fiscalizar o executivo. Não serei um vereador despachante, estarei lá para fazer leis que beneficiem toda a comunidade e para fiscalizar o executivo independente se for situação ou oposição. É obrigação do vereador fiscalizar, certo?

Fiscalizar é muito importante, ver se o prefeito está aplicando os valores corretos. Se está recebendo e aplicando na área que mais precisa... Serei contra, expressamente contra, privatizar qualquer serviço do município. A gente sabe que os serviços de limpeza de prédios esses têm que ser terceirizados, porque não tem como, mas o serviço de saúde, o serviço de segurança, a educação, isso não é admissível.


A cidade deve voltar a ser uma cidade protagonista. Hoje, Caxias é a segunda maior cidade do estado, o segundo maior PIB do estado, mas não tem protagonismo algum. Uma cidade abandonada, as vias que nos ligam a nossa cidade agora ficaram fechadas, não tem rodovia duplas, tu vais em qualquer grande cidade é tudo rodovia dupla. Eu não vejo as forças que se dizem forças vivas da cidade se mobilizar para isso. Cadê a Cic, cadê o CDL? Cadê o Sindilojas, onde está esse pessoal que se diz dono do poder?  



As pessoas se deixam enganar e depois temem criticar aqueles em quem votaram. Eles votam nessa gente eles defendem a privatização, eles defendem o estado mínimo. Mas quando acontece uma tragédia, é atrás do estado que eles correm, né? Está acontecendo isso com aeroporto, a Fraport lucra milhões e gora quer que o governo ajude e tem gente que acha bonito.

A iniciativa privada prioriza o lucro, não o bem-estar das comunidades, por isso que se a coisa é do estado funciona, basta ter vontade e trabalhar para atender toda a população, independente da sua raça, da sua etnia, da sua cor, do seu gênero, do seu poder aquisitivo, todos têm que ter o mesmo tratamento. É público, né? Por isso, eu digo: já pensou um Samae privado? A empresa privada não vai fazer lá uma ligação a 15 km do centro, enquanto essa é uma obrigação do poder público. Então, é esse o meu objetivo. É isso que eu quero lá na Câmara. E junto com a Denise e o Alceu a gente vai implantar novamente o Orçamento Participativo, onde quem decide é a população.




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