Entrevista Estela Balardin

 

Entrevista com a Vereadora Estela Balardin


Na entrevista que segue, Estela Balardin fala sobre sua trajetória, sobre seu entusiasmo pela política e sobre sua visão de sociedade, entre outras coisas que deixam à mostra um espírito jovem e dinâmico, pronto para lutar por sua cidade. Estela, 23, é a vereadora mais jovem da câmara municipal de Caxias do Sul. Professora em séries iniciais por formação, ela cursa Serviço Social, na Universidade de Caxias do Sul.




Site (S): O que que te levou para a política?
Estela (E): Iniciei no movimento estudantil eu fui presidente do Grêmio Estudantil do Cristóvão. Ali, me envolvi com a União Caxiense de Estudantes Secundaristas. O pessoal era bastante envolvido com o Partido dos Trabalhadores, então foi quando eu comecei a conhecer um movimento partidário propriamente dito. Em 2018 nossa chapa venceu e eu assumi a presidência da União Caxiense de Estudantes Secundaristas. Em seguida, me filiei ao partido e em 2019 assumi uma assessoria ao Deputado Pepe Vargas.


(S) Por que o PT e não outro partido progressista?
(E) O partido sempre teve influência muito grande no meu bairro (Serrano). Tínhamos uma estrutura pequena e aí quando veio o governo do PT, ele começou a ter a estrutura de um bairro, ser inserido nas políticas públicas, receber calçamento, tratamento de esgoto, água encanada nas casas, escola, UBS, transporte público, de acordo com a realidade das pessoas que moravam lá. Por menor que eu fosse na época, tenho muito viva na minha memória a lembrança de ir com o meu avô até as reuniões do orçamento participativo. Minha família inteira sempre foi petista e participava. Assim, eu percebi que foi através do Partido dos Trabalhadores que as coisas aconteceram no meu bairro. Então, em 2016 quando votei pela primeira vez, participei de um comício. Foi quando conheci a Denise, o Beltrão (que agora não faz mais parte do partido) ... e me encontrei enquanto ideologia, pela proximidade que eles tinham com a minha comunidade com o meu bairro.


(S) O que a política te oferece?
(E)
 Eu entrei na faculdade, eu conquistei a possibilidade de ser uma jovem negra de periferia que saiu do ensino médio para a universidade por causa de políticas públicas de um governo progressista. Então, por causa da política, por causa do FIES por causa do PROUNI, eu vi que eu poderia fazer faculdade. Foi por ela, também, que eu consegui frequentar o Centro Educativo que foi fundamental na minha formação. Nesse espaço pude me descobrir enquanto pessoa, agentes capazes de atuar no meu meio. Isso sem contar que meus pais trabalhavam estavam tranquilos que a gente estava num lugar seguro. Isso tudo é política.


(S) Quais são os teus planos na política?
(E) Então! eu digo que eu não vejo na política uma carreira. O que eu vejo é que com ela, aqui, ainda consigo fazer a mudança que acredito ser importante para o meio onde estou. Pela política, eu consigo representar as pessoas, fazer valer o voto de confiança delas em  mim.


(S) O que achas que falta para vincular mais a comunidade com a política local?
(E) 
a comunidade, de modo geral, é bastante apática em relação à política. O cidadão caxiense é um trabalhador. É o trabalhador que acorda todo dia, que usa o transporte público, que precisa da vaga na creche, que precisa do médico na UBS... e esse trabalhador, ele sofre com a falta dessas políticas públicas funcionando na sua cidade. E a falta dessas coisas faz com que o cidadão tenha pouco tempo para se informar e pensar sobre as coisas que são do seu interesse e às quais tem direito. Ele tem que estar focado em sobreviver e manter a sobrevivência dos seus, como é que ele vai trabalhar, como é que ele vai conseguir dinheiro para comprar as coisas, sustentar sua família, como é que a mãe vai conseguir ir para o mercado de trabalho e ter uma creche onde deixar o seu filho... Então, para mim, essa é a característica do caxiense. Uma de suas principais características é a de não desistir, de sempre batalhar, mas ele também precisa entender que precisa ser pensante, que precisa ser questionador, que precisa de espaço para cultura, espaço para lazer, que falta muito na cidade. E enquanto o cidadão não cobrar, não vai ter isso na cidade.


(S) Todos dizem que o PT deve fazer um mea culpa. O que tu apontarias como um erro do partido?
(E) 
Eu acho que a gente ainda tem dificuldade de organizar a nossa base. A gente acaba destacando quadros que entram, por exemplo, para a política institucional. Mas falta fortalecer a política de “formiguinha” que é dentro do bairro, dentro do trabalho comunitário, dentro do conselho de saúde, dentro dos demais conselhos, do conselho de cultura, sabe? Falta ativismo no campo mesmo. Dentro dos nossos bairros, eu acho que a gente está deixando a desejar. E acho, também, que não é só por “culpa” nossa. O PT teve um ataque muito grande nos últimos tempos e, com isso, infelizmente, a classe trabalhadora também se distanciou do partido. Por mais que a gente saiba que quem sempre esteve ao lado deles foi a gente, esse ataque da mídia em cima do nosso partido foi tão forte que influenciou e fez as pessoas se distanciassem. A gente ainda está com dificuldade de fazer essa reaproximação, de retornar esse trabalho de base que a gente já teve muito forte. Então, aí é onde a gente ainda está patinando para conseguir retomar. O trabalho de base nos bairros no dia a dia quando a gente tem alguma ação específica, quando a gente tem uma reunião específica, a gente consegue. Mas no dia a dia a gente ainda precisa melhorar.

O bombardeio foi tão forte que as pessoas parece que tinham se desiludido com o partido. Mas agora, quando a verdade começa a aparecer, sobre a grande mentira do mensalão, sobre a podridão da lava jato, sobre a corrupção do governo anterior, sobre o comportamento de grupos de políticos, as pessoas começam e se dar conta da verdade.


(S) Achas que esse pode ser um fator de reaproximação/despertar da sociedade em relação ao PT?
(E) Acredito que sim, porque a gente vinha sempre fazendo essa denúncia desde que houve o golpe da Dilma e depois quando houve a prisão do Lula. E antes, até, com o mensalão. A gente fazia essa denúncia de quem era essa turma, qual era a forma como eles atuavam e de que lado de fato eles estavam na política. Então, estão aparecendo as provas de tudo aquilo que a gente falava, muito mais do que qualquer coisa de que eles nos acusaram e com uma diferença: Nós estamos cercados de provas e eles de fake news. O que falta pra nós agora é a força de disseminação com que eles contaram. E também temos que lembrar que a gente era muito mais popular. Tinha uma relação de sentimento, de afeto do Lula e da Dilma com o povo. E o Moro e a turma dele nunca trataram o povo bem, nunca se preocuparam com ele. Então, todos os podres deles parece que não impactam tanto.


(S) Como analisarias os episódios mais recentes da política local que envolveram os vereadores Fantinel e Lucas Caregnato e o prefeito Adiló?
(E)
 Com relação à cassação do vereador Fantinel é importante a gente entender que aquela fala preconceituosa dele não é um caso isolado. As falas dele com esse viés são recorrentes no plenário da câmara de vereadores. Acho que aquela foi a mais grave, mas há muitas outras. Uma me marcou especialmente. Foi em 2021. A gente tinha acabado de entrar na Câmara de vereadores. Acho que era o terceiro mês de mandato. Eu rebati uma fala política dele e ele disse que não era para eu falar nada porque eu ainda não tinha saído das fraldas. E ele seguiu todos esses anos com ataques violentos, por exemplo, a ministros do STF até chegar naquele fatídico dia em que se referiu de modo preconceituoso e injusto ao povo baiano, num caso de trabalho análogo à escravidão, o que torna tudo ainda mais grave, porque ele relativizou algo que aconteceu na nossa região e que a gente precisa denunciar porque a gente não pode mais aceitar que aconteça. E ele fala isso na tribuna da Câmara um local onde o que a gente fala tem um peso muito maior porque a gente fala ali representa as pessoas dá voz à sociedade. A gente é 23 aqui dentro né e representa 600. 000 habitantes. Então, tem uma força muito grande o que a gente diz. Justamente por isso que a gente acreditava ser muito importante a cassação dele. Aí, a gente viu todo um trabalho do próprio prefeito para essa cassação não acontecer.

Chegou a haver o retorno de um vereador que tinha ido para uma Secretaria para que ele votasse contra a cassação. Com relação ao pedido de cassação do Lucas, pra mim é uma etapa do pedido de cassação do Fantinel, uma cortina de fumaça, uma tentativa de calar a oposição, ou de pelo menos suavizar os protestos no momento da votação. É evidente que isso teve peso. Não podemos perder um companheiro valioso como o Lucas né? A gente não podia colocar em risco o mandato dele e também pelo fato de tentar calar a oposição.


Esse é um segundo ponto importante. Acredito que a oposição começou a incomodar muito eles depois da reforma da previdência. Então, eles uma oportunidade de tentar jogar um balde de água fria na oposição. Penso que nesse ponto falharam. Inclusive, a oposição cresceu muito dentro da Câmara de vereadores, tirando nós do isolamento. E, ainda em relação ao caso do Fantinel e do Lucas, eles tentam igualar, mas o Fantinel defendeu o trabalho análogo à escravidão enquanto o Lucas defendeu que pessoas entrassem numa audiência pública que estava com as portas fechadas. Então, existe diferença nítida, clara, né? E com relação ao pedido de impeachment do prefeito, não acredito que fosse o caso, tanto que nós votamos contrários. O impeachment faz sentido se a pessoa cometeu um crime. Mas é importante ressaltar que o motivo que originou o pedido é grave, tanto que gerou a CPI da Saúde, que a gente abriu aqui na Câmara por causa da falta de atendimento a um cidadão na UPA central na gestão do InSaúde e que gera várias outras dúvidas naquela gestão, né? O InSaúde demonstra ter várias fragilidades e eu acho que a gente não pode culpar só a UPA central. Há um enfraquecimento na atenção básica que gera demanda maior na UPA, aumentando o tempo de espera, provocando superlotação... a gente está sem leitos em todos os hospitais da cidade. E o prefeito demonstra não estar fazendo nada efetivo pra melhorar essa situação. Então, mesmo que não tenha cometido um crime, ele precisa dar resposta para Caxias do Sul.


(S) Que relação fazes entre política e história e quem destacarias, como grandes figuras do PT?
(E)
 Penso que a política e a história estão estritamente ligadas principalmente por causa daquela frase meio clichê que a gente usa de que tudo é política né? A história ela é marcada por grandes fatos políticos. No PT temos bons exemplos de pessoas que marcam a política e a história, começando por Dilma Rousseff. Na ditadura, ela foi muito importante. Sofreu nas mãos de torturadores sem entregar seus companheiros. Era uma menina, com cerca de 19 anos, bem mais jovem do que eu e que estava lá, lutando contra a ditadura. Não entregou seus companheiros num dos momentos mais duros da história deste país, quando movimentos sociais e o movimento estudantil foram, também, da maior importância.

A sua força fica demonstrada quando ela se torna presidente do Brasil. Eu acho que isso é algo memorável. Então, acho que ela demonstra bem a ligação entre história e política. É uma pessoa que me inspira, uma pessoa aqui do nosso estado, que tem uma presença muito forte do PT. Grandes nomes do nosso partido são do Rio Grande do Sul. Eu acho que a gente não pode deixar de citar o Lula como uma pessoa importante. Ele marca toda uma geração de famílias pobres, miseráveis, que vieram do interior do nordeste para os grandes centros.


E mais uma vez a política e a história se cruzam. Um menino pobre, de família de retirantes, sindicalista, foi eleito o melhor presidente do país. E quando a gente fala em movimento sindicalista, também está falando em movimentos sociais, que por meio da política escrevem a nossa história. E pra fechar a relação da história com a política, tenho que falar de Rosa Luxemburgo, que eu leio muito, que me inspira e que faz parte de uma importante história que é da revolução alemã.


(S) O que falta, em Caxias do sul, que a política poderia resolver e como?
(E) 
Falta muita coisa em Caxias. Eu poderia usar um exemplo simples e um mais complexo. Uma coisa simples é o transporte. Se o perfeito tivesse pulso com a empresa de transporte público Visate e exigisse alteração de determinados horários de linha, ouvindo a população, e respeitando as especificidades de cada bairro, adequando a oferta às necessidades da população, a gente já teria um problema grande solucionado. Tem horário de escola, de faculdade, de trabalho... e falta ônibus nesses horários. Falta vontade política. A Visate deve servir a cidade e não o contrário. Já um problema muito importante, mas mais complexo, é o da saúde, que também exige vontade política, embora não dependa somente do poder municipal. A gente precisa cobrar do governo estadual, que abra os leitos do Hospital Geral que são de sua responsabilidade. Precisamos desse diálogo. O governo estadual precisa cobrar de municípios do entorno de Caxias do Sul que ajudem no custeio do HG. O governo municipal precisa estar em Brasília com mais frequência, precisa que a secretaria de saúde participe das reuniões do governo do estado, que a Secretaria de Saúde vá a Brasília e sente com os ministros, sente com os deputados. É evidente que não se vai resolver 100% do problema, mas a gente precisa que eles comecem a ter ações e atualmente o que a gente tem é inércia, como se estivessem de mãos atadas e não estão. Eles só estão de de braços cruzados.

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