"Hoje, a gente vê que o poder público se preocupa com o centro, com os pontos da cidade que têm mais visibilidade ou com questões que rendem mais imagem"

 

Entrevista com Andrelise Gonçalves Sperb (PT), candidata à câmara municipal de Caxias do Sul 

Sinal de esperança por dias melhores


Andrelise tem 46 anos, é professora,  intérprete de libras e trabalha há mais de 22 anos com Educação Especial. Já trabalhou na Secretaria Municipal de Educação e na Assessoria da 4ª Coordenadoria do Estado. Atualmente, trabalha na Escola Helen Keller. Ela diz, com orgulho, que jamais se afastou da sala de aula.

Quando e como se deu tua aproximação com a Política? 
Na verdade, sempre estive próxima da política, porque eu sempre fui presidente de mesa eleitoral na seção eleitoral em Santa Corona. Moro no bairro desde os 10 anos. Me criei ali. Meu pai, que vai fazer 92 anos, milita no PT desde que me conheço por gente. Minha mãe, que tem 88 anos, sempre fez parte da comunidade. Então, a política sempre esteve presente em minha vida. Éramos crianças e vimos nossos pais apoiando a candidatura da Ana Corso a vereadora. Naquela época, fazer uma campanha eras diferente. Todos nós em casa nos reuníamos e fazíamos chaveirinhos pra ela. Na época eu tinha uns 14 ou 15 anos. A gente juntava os recursos que conseguia e promovia jantares para fortalecer a candidatura. Meu pai era taxista. Então, convocava todos os seus companheiros. Assim, eu meio que me criei nesse ambiente, mas nunca tinha tido coragem de assumir, embora recebesse alguns convites até mesmo do Pepe e da Ana. Agora, decidi que estou pronta para esse desafio.

Uma vez eleita, o que pretendes fazer, prioritariamente, por Caxias? 
Confesso que tenho medo, mas vou enfrentar o desafio, porque sei que tenho muito a agregar. Conheço muito essa questão da acessibilidade, a área dos surdos, das libras, da Educação Especial. Eu acho que isso tudo precisa melhorar em Caxias. A Coordenadoria da Acessibilidade precisa oferecer mais atenção e cuidado a esse público. Então, me proponho a isso prioritariamente. Hoje, a Coordenadoria de Acessibilidade é vinculada à Secretaria Municipal de Segurança Pública. Mas, em minha opinião, ela deveria estar vinculada também à Secretaria de Educação.  A acessibilidade não diz respeito somente à comunidade surda. Tenho especialização em deficiências múltiplas e a partir disso pode-se perceber que essa questão é muito mais ampla, pois independentemente de suas condições individuais ou limitações, todos podem contribuir de alguma forma com a cidade.

Outra questão que me desafia é ajudar a melhorar meu bairro. Eu nasci e me criei ali. Conheço todas as suas necessidades e deficiências. Nós não temos uma UBS, por exemplo, apesar de o bairro ser grande. E devemos pensar também no entorno, que envolve, por exemplo, o Conquista, que sozinho tem mais de 300 moradores. E quando a gente pensa no bairro surgem as questões de segurança e de educação, além da saúde.

Então, penso que fazer essas articulações é o papel do vereador. Ele é a voz dos moradores. Outra questão importante é a entrada do bairro. Uma entrada bem-cuidada vai aumentar a autoestima dos moradores, é evidente. Isso sem falar na segurança do trânsito local.

Essas coisas todas não exigem um investimento alto. Elas exigem vontade política do poder público e participação do cidadão. E o vereador é o elo para que isso ocorra. Quando se fala em segurança, por exemplo, ações básicas como iluminação e fechamento de buracos são coisas muito simples, mas que resolvem pelo menos a metade do problema.

Sinal para dizer: a menina das Libras, como Andrelise é conhecida


Que estratégia(s) achas mais eficientes para pensar politicamente em teu bairro? 
 Acho que a primeira coisa é ouvir as pessoas, né? Como é que um vereador representaria sua comunidade sem ouvi-la? Outra coisa importante é conquistar participação maior de mulheres na política de modo geral. Acho que a gente, enquanto mulher, assume muitos papéis, né? Seja profissional, seja em casa, seja na família, enfim, na área que a gente decidir atuar. Vamos ver, como exemplo, o meu caso. Posso ajudar minha comunidade como mulher, como mãe, como professora, como educadora. Então, a gente consegue ter visão da importância da acessibilidade, também fora da escola, no dia a dia.

Os governos do PT mostraram, por exemplo, a importância do orçamento participativo. Tivemos muitos programas na época dos governos do PT e que se perderam, quase todos com participação popular. Então, eu acho que primeiro ponto é ouvir. É ver onde realmente a população acha que tem que ser feito investimento desta ou daquela verba. Desenvolveu um projeto que vá realmente ao encontro das necessidades da comunidade, né?

Hoje, a gente vê que o poder público se preocupa com o centro, com os pontos da cidade que têm mais visibilidade ou com questões que rendem mais imagem. A Educação, nesse sentido, perde espaço. Temos que pensar na Educação Especial, nas escolas dos bairros, no ensino em tempo integral, como o PT fez no passado em nossa cidade. Tem-se que pensar na Educação para a cidadania.

Então eu me vejo na política com um papel de mulher, de educadora, né, e de promover as questões da inclusão, da acessibilidade, da equidade, porque igualdade não é oferecer para todos a mesma situação. É a gente prestar atenção, sim, no que pessoas e comunidades precisam. Então, a gente precisa ter esse olhar.

E o que que é política para ti? 
 A política, para mim, é as pessoas poderem manifestar suas opiniões. No momento que tua opinião é ouvida e respeitada, tu já estás tendo uma formação política. A todo momento, quando a gente faz escolhas, por mais que não estejam diretamente relacionadas à política, estamos tomando uma decisão política. Só que a política ela não envolve algo pessoal. A política diz respeito sempre ao coletivo.

Então, a política tem que ser pensada de mim para todos e de todos para mim. Assim, tudo é um ato político. Pensando em nossa cidade, por exemplo, nesse sentido, eu acho que a gente deveria ter uma central de intérpretes de libras para poder atender as demandas do município para surdos. Esse seria o caso da língua de sinais. Por exemplo, um surdo vai num hospital. O surdo só fala em língua de sinais, quem é que atende ele? Não tem. Hoje, o município, tem uma única intérprete nomeada que trabalha somente por agendamento por e-mail, 20 horas/semanais e em encontros presenciais para atender toda a população surda da cidade. E acessar esse serviço, é uma burocracia muito grande, inadmissível. Para poder ter o serviço público para todos, como é que funciona? Eles têm que fazer um pedido por e-mail e tem que ver se há disponibilidade. Eles atendem somente demandas do município. Então, por exemplo, em uma escola que tem um pai surdo que precisa de uma intermediação com a professora, o pedido é negado, alegando-se que o estado é que tem que dar conta do problema. Em outra situação, se um surdo precisa de atendimento de emergência em um hospital, muitas vezes ele acaba tendo que recorrer a um profissional particular. Seguidamente, há casos em que fazemos ligação de vídeo para intermediar o atendimento porque eles não têm esse serviço. Veja que nem estamos falando em eventos municipais como feiras, por exemplo, que demandam esse tipo de atenção. E deve-se frisar que esse tipo de atendimento é garantido por lei.


Sinal de voto


Então, uma central de atendimento resolveria o problema de muitas pessoas, principalmente se considerarmos a possibilidade do atendimento online sete dias por semana, 24 horas por dia.

A cidade não tem sequer um cadastro atualizado sobre o número de cidadãos surdos. E, veja bem, estamos falando de surdos. Há centenas de caxienses com outras deficiências que também não recebem atenção adequada, como cegos, somente a título de exemplo, ou deficientes físicos, deficientes intelectuais...

Hoje, no município, o que que acontece no cotidiano dessas pessoas? Elas concluem seus estudos e onde ficam depois? Qual é um centro de convivência ou qual instituição que as atende ou que faz o encaminhamento delas para o mercado de trabalho? Algumas instituições fazem isso por uma “gentileza”, como a escola Helen Keller. E aí, a gente volta à questão da visibilidade, da cidadania. Aqueles que têm condições financeiras buscam recursos fora daqui, pois podem pagar. E nós já tivemos esses cuidados, em 96, nos governos populares do PT. Na verdade, Caxias se antecipou à Lei Federal, que é de 2.002.

A lei que garante o acesso a libras foi criada pelo prefeito Pepe Vargas aqui em Caxias. Penso que aí cabe, também, uma a proposta de cursos de libras para as famílias, porque às vezes o familiar tem um filho surdo, e a mãe é ouvinte. Então, penso que essa questão não recebe a atenção que merece e mesmo determina a lei. Essa é uma importante questão de gestão que atravessa a atenção social, a cultura, a saúde, a educação, a segurança pública, a cidadania...

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