“Quando se analisa problemas da cidade, percebe-se que o maior, talvez, seja a vontade política de mudança”

Entrevista com Sane Fiuza (PT), pré-candidata à Câmara Municipal de Caxias do Sul 





 
Quem é Sane Fiuza?

Sou Nail designer, instrutora e especialista em saúde das unhas e alongamentos. Moro no Bairro Reolon desde 1993. Tenho 45 anos. Sou mãe de três filhos: Brenda, Ryan e Hanna. Sou casada há 26 anos.


Como pré-candidata a uma vaga na Câmara municipal de Caxias do Sul, como enxergas a cidade? Como pretendes representar a população?

Como venho de um bairro periférico, é muito importante que eu desempenhe uma luta em termos de representação do Reolon, da zona oeste, do Mariane... e de seu entorno, que inclui o Bairro Mariane, embora, obviamente todo(a) vereador(a), trabalhe para toda a cidade.


Num primeiro olhar, o que destacarias de necessidades da cidade?

A cidade tem muitas dificuldades. Podemos falar, para começar, de infraestrutura e saneamento básico. Precisamos falar, também, em cultura. No Reolon, especificamente, a comunidade não tem espaço para a prática de esportes e lazer. O bairro não tem uma praça, por exemplo. Esse espaço faz muita falta para os jovens e, por que não, para os idosos.

A comunidade tem uma queixa importante, faz muito tempo, na área da Educação. Nós não temos uma escola estadual de Ensino Médio. Então, muitos dos nossos jovens, param de estudar, pois deslocar-se para o centro ou mesmo para outros bairros acaba ficando caro para muitas famílias. Além disso, a segurança também pesa, pois eles começam a trabalhar durante o dia e precisam estudar à noite. Como o transporte público funciona mal, muitos acabam desistindo, também, por questão de segurança.

Essa luta do bairro iniciou-se em 2017. Procuramos diversas secretarias, entre as quais a de Segurança, que dispõe, no bairro, de espaço muito bom para a escola. Mas ainda não fomos bem-sucedidos. A gente luta pra viabilizar essa conquista. No Reolon, nós temos duas Escolas de Ensino Fundamental, escola Machado de Assis e a escola San Genaro.


Eu acredito que se conseguirmos implantar uma escola de Ensino Médio; conseguirmos um espaço de lazer e conseguirmos que o transporte público funcione adequadamente, implicando, também, na segurança das pessoas, a autoestima das pessoas subirá. Com esse investimento que é social e tem baixo custo, os moradores vão construindo um sentimento de cidadania e de autoestima, acabando com um estigma que acompanha a área. Para se ter uma ideia mais concreta do descaso da gestão pública pelos moradores, a UBS do bairro não tem serviço médico de ginecologia. O atendimento ginecológico é apenas para gestantes. A UBS do Reolon atende 7000 usuários. Então, se uma moradora tem um problema ginecológico, ela precisa passar primeiro por um clínico, que é um médico de família, pra depois ele indicar um especialista. 



Muitas vezes, até o morador chegar ao especialista, já é tarde para iniciar um tratamento. Isso acaba criando outro problema, pois as pessoas recorrem ao Hospital Geral, que é público, mas que acaba superlotado, com filas enormes.

Se as pessoas recebessem atendimento na primeira fase da doença, o SUS teria um custo muito menor. O câncer é um bom exemplo para isso. Se o paciente ataca a doença no primeiro estágio, o SUS não vai gastar com a quimioterapia e/ou radioterapia, que têm custo muito alto.


Como atacar problemas desse tipo, entre outros tantos?

O argumento da gestão pública, não importa de que área se fale, é o custo. Mas nunca de faz um balanço da relação custo/benefício. O Reolon precisa, por exemplo, de uma pista de skate. Esse simples investimento passa pela cultura, pela educação, pelo lazer, pela saúde, pela sociabilidade.

Da mesma forma, incentivar o grafite é investir na arte, é educar, é gerar cultura. O hip hop é outro exemplo. E quando a gente fala disso tudo, não está falando em custo, em despesa. Um projeto bem-feito, com certeza, consegue captar recursos. Para isso o que se precisa é de vontade política, até porque, esses projetos demandam investimento singelo.

Nós atuamos no bairro há três anos, produzindo teatro, de forma gratuita, para a gurizada, a partir das escolas do entorno. Começamos no Machado e hoje estamos em outras três escolas da região. Começamos com um pequeno sonho. Queríamos apenas manter as crianças ocupadas no turno inverso ao das aulas. Hoje, temos vários grupos e o que nos falta é um espaço para as apresentações. Quando se fala em cultura, as opções que aparecem, imediatamente, são Casa da Cultura e Centro Cultural Ordovás. Mas não precisa ser assim. A cultura tem que estar pulverizada pela cidade toda. 



Caxias já teve essa pulverização de manifestações culturais, com o Prefeito Pepe Vargas. É triste que tenhamos esquecido essa experiência fantástica. O Projeto Gente em Cena fez história em nossa cidade. Então teria que se descentralizar, valorizar a cultura dos bairros, dar espaço a ela.

Eu sou da geração que participou do Gente em Cena, e não perdemos um único jovem para a violência, para o crime, para as drogas. Pelo contrário, um grande número deles, mesmo sem apoio nem estrutura, continuou a cultivar a semente lançada por Pepe. Os que não continuaram investindo na cultura se tornaram mães e pais de família. Trabalhar com o teatro ajuda o indivíduo a desinibir-se para uma entrevista de emprego, a relacionar-se com os demais, desenvolvendo uma sociabilidade saudável, a gostar das diversas outras formas de arte...

Nossa cidade sempre foi muito voltada para o trabalho. E isso acaba gerando um problema social muito triste. Os idosos já não têm serventia no mercado de trabalho. Então, em muitos casos, eles caem no abandono, que vem seguido da depressão. É preciso pensar nos nossos jovens da 3ª idade.

Não tem nada pra eles. Pro mercado de trabalho não servem, e seus familiares não conseguem dar a eles a atenção que demandam. Então, é preciso criar espaços de recreação, espaços em que os familiares possam deixa-los pela manhã e busca- los à noite (como uma creche, por exemplo), ou lares que sejam custeados pelo poder público (hoje temos apenas o lar São Francisco, que não acomoda a demanda existente).
 
Na verdade, quando se começa a analisar os problemas e dificuldades da cidade, começa-se a perceber que o maior, talvez, seja a vontade política de mudança. E esse me parece que é um dos principais papeis de um vereador.

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